Bus Ride Notes
Entrevistas

Entrevista: Memorial State

Memorial State é uma banda formada em 2019, na cidade de Porto, por três brasileiros que se conheceram em Portugal.

Leo DaCosta (guitarra, voz), Vinicius Buenaventura (baixo, voz) e Guilherme Toledo (bateria) têm principal influência das vertentes do punk (mais especificamente emo) e indie rock (mais especificamente shoegaze).

Após o álbum “Heavy Colors” (2020) e o EP “Bloomed” (2022), a banda se prepara para o lançamento e turnê de divulgação de seu próximo EP, “Fix”, em maio.

Conversamos com o vocalista e guitarrista, Leo, sobre a história da banda, sua discografia e mais na entrevista que você lê a seguir:

Vocês podem falar sobre a banda pra quem não conhece?

Oi, nós somos a Memorial State, uma banda que faz música introspectiva com energia e pegada emo/punk/altgaze. No último ano o Spotify classificou a gente como dreamo, que acaba por ser uma categoria de bandas “novas” que não se encaixam nas prateleiras convencionais, algo que está ali junto dos sons dos anos 1990, 2000, mas não é diretamente emo, nem grunge, nem pop punk, mas tem esses estilos como referência.

Vocês são brasileiros que se mudaram pra Portugal, se conheceram aí e formaram uma banda, é isso? Como foi esse encontro e o início da banda?

Exatamente isso. Nós chegamos todos em Portugal mais ou menos na mesma época, com alguns meses de diferença. Quando eu (Leo) cheguei, trouxe apenas duas malas, uma guitarra, equipamento de gravação e um amplificador. Antes de chegar eu já sabia que faria uma banda aqui.

Um cara me chamou pra tocar através de um anúncio em um grupo do Facebook e fizemos alguns ensaios com outras duas pessoas (uma delas era o Gui, baterista). Acabou que esse projeto não andou, o brother teve que ir embora do país, mas a amizade com o Gui ficou e rapidamente a gente identificou que curtia os mesmos sons. Daí começamos a procurar um baixista e uma amiga em comum indicou o Vini.

Nos reunimos e rapidamente a química fluiu e compomos “Heavy Colors” no fim de 2019. Gravamos o disco, fizemos alguns contatos interessantes e agendamos algumas datas pra divulgar o álbum. Só fizemos o primeiro show, no dia seguinte o mundo parou e a Europa entrou em lockdown. Tudo isso atrasou os processos, mas foi bom para amadurecermos o som, identificarmos que direção seguir musicalmente.

O som da Memorial State se aproxima, mas vocês se consideram parte da vertente grungemo (Basement, Superheaven, Movements, etc)? Vocês sequer ouvem essas bandas da nova geração? Quais são algumas das suas influências?

Com certeza conhecemos todas essas bandas. São, sim, parte da nossa trilha sonora diária. Se somos parte dessa vertente? Talvez tenhamos chegado tarde para a festa (risos).

Mas sim, além da influência dessas bandas, nós ouvimos outras mais clássicas como Pixies, Smashing Pumpkins, etc.

Temos um EP novo que será lançado agora em maio e um álbum praticamente pronto pra lançar no fim do ano. São diferentes entre si, mas conversam muito com as nossas influências, cada um de um jeito.

Aliás, vocês fizeram o caminho contrário dessas bandas (acho que acontece no punk em geral), sonoramente “Bloomed” tem um peso a mais que “Heavy Colors”. Pra vocês quais são algumas das diferenças mais marcantes entre o disco e o EP?

O “Heavy Colors” é um disco muito cru. Nós ensaiávamos em uma garagem (literalmente, era uma sala de ensaio em um edifício de garagem), eu estava com um equipamento de guitarra extremamente reduzido, com pouco espaço para nuances e essa é minha primeira experiência como vocalista de uma banda. Talvez o ambiente e os processos iniciais tenham influenciado em uma atmosfera mais linear no disco.

Quando trabalhamos no “Bloomed” já tínhamos uma visão mais clara uns dos outros enquanto músicos e também do alcance musical que queríamos.

Com o lançamento dele nós tivemos a oportunidade de fazer shows na Inglaterra, de ver nossos clipes e o lançamento do EP saindo nas maiores publicações de música do país, então ele também refletiu um momento mais maduro e, como o nome sugere, “desabrochou” a banda.

Nossa visão hoje é mais centrada no que é o “Bloomed”, mas no próximo álbum teremos também dinâmicas mais suaves, com camadas mais profundas de guitarra, algo que você descreveu que acaba acontecendo com essas bandas todas.

Como é a cena da música independente em Portugal? É muito diferente do Brasil?

A cena aqui é interessante. Muito forte para bandas de hardcore, metal, stoner. Nosso tipo de som tem pouquíssimos representantes no país, o que acaba por ser algo positivo pra gente. Nos dá visibilidade em grandes publicações de música, etc.

Aqui consegue-se criar um circuito relativamente sustentável para que a operação da banda “se pague”, o que já é uma diferença absurda do Brasil. Em termos de estrutura para tocar, organização dos eventos, é uma diferença muito grande também. Há sempre equipamento em boas condições para que o evento aconteça corretamente. Há sempre bons técnicos pra garantir que o som do evento seja agradável pra quem tá lá prestigiando, o que é outro diferencial.

O principal é que há também pessoas com disposição de ouvir o que você está lá berrando no microfone. Acho que no Brasil as pessoas estão um pouco saturadas e deixaram de prestar tanta atenção na música, passaram a encarar os shows independentes mais como evento social do que como uma forma de conhecer novas sonoridades, novas músicas e novas perspectivas sobre o mundo. Isso me impactou tanto que eu até criei um canal no Youtube onde tenho feito vlogs mostrando essas diferenças.

Últimas considerações? Algum recado?

Queria agradecer o interesse e convidar a galera que acompanha o Bus Ride Notes a conhecer nosso som. Em maio vamos lançar um EP novo com quatro músicas que vai se chamar “Fix”.

Saímos pra divulgar o EP dia 23 de maio em uma turnê na Alemanha e já estamos fechando datas em Portugal para continuar a divulgação. Torçam por nós e acompanhem tudo no meu canal no Youtube!