Bus Ride Notes
Selos

Entrevista: Alforge Records

Mais um ano começando, mais uma volta que a Terra dá, e a gente continua aqui. Como todo mundo, nós também fizemos nossas resoluções de ano novo e pensamos sobre a bagunça que foi 2021. Começamos 22 com aquela sensação de “Vamos ver que no que vai dar, né?”.

No meio das nossas resoluções pro blog, decidimos incluir um espaço mensal de entrevistas, agora, todo mês o Bus Ride Notes vai receber um selo independente de qualquer lugar do país para conversar e apresentar para vocês, nossos passageiros. A ideia esporádica virou quase uma coluna, você pode conferir nossas entrevistas com Tudo Muda Music, Big Cry Records, Mercúrio Música, Dobradiça Enferrujada Discos, entre outros, e todas as entrevistas futuras, na categoria SELOS aqui no site.

A gente já está careca de saber da correria que é ser artista independente, ainda mais nesse contexto caótico que vivemos atualmente. Mas também existem outros personagens nessa correria: a galera que faz a curadoria desses artistas, distribui lançamentos, organiza eventos, monta zines, etc. Enfim, os tais dos selos fonográficos.

Quando penso em selos independentes já me vem à memória alguns exemplos da gringa que impulsionaram artistas para a fama. Por exemplo, a Dischord Records lançando bandas conhecidíssimas como Fugazi e Minor Threat; a K Records lançando Beat Happening e Built to Spill, e por aí vai. Mas e aqui no Brasil? Esses exemplos citados são de 30 anos atrás, como é o rolê dos selos independentes hoje em dia? Isso você vai descobrir aqui ao longo dos próximos 12 meses.

Pra começar, recebemos Gustavo e Rudinei da Alforge Records. Criado em 2015, o selo gaúcho é focado em bandas de Caxias do Sul e já reúne 5 grupos, entre eles Cxs/poa, Marinas Found e TeTo. Uma coletânea do selo foi lançada em 2021 e está disponível nas plataformas de streaming. Além disso, a Alforge também possui o blog Albergue, com resenhas, entrevistas e recomendações não só sobre música, mas também de cinema.

Para saber mais sobre a Alforge Records, confira a nossa entrevista.

Começando do início, como surgiu a Alforge Records?

Gustavo: O selo se iniciou em 2015, mas tinha o nome Mito Records (em referência ao mito da caverna de Platão), com o Rudinei e o Severo, quando formaram a banda Borduna. Eu fui chamado pra ajudar no selo, que num primeiro momento tinha a proposta de viabilizar shows e lançamentos de projetos próprios e de pessoas próximas. Em 2018 o selo passou por uma reformulação, chamando mais pessoas para participarem do projeto, e também mudou de nome, pra se desvincular de “mito” e não provocar nenhum equívoco quanto às nossas posições políticas que são totalmente opostas ao atual presidente.

Por que o foco em artistas de Caxias do Sul?

Gustavo: Principalmente pela questão geográfica e pelo selo focar, primeiramente, em projetos dos seus membros. Mas como também atuamos com a organização de shows locais, já trabalhamos com bandas de outras cidades e estados também, como Raça e Ombu, de São Paulo, e No Reply, de Curitiba.

Além do fato de serem de Caxias do Sul, qual seria o outro denominador comum (digamos assim) entre as bandas do selo?

Gustavo: Também buscamos trabalhar com bandas independentes, principalmente de hardcore punk, mas entendemos que o punk vai além de um gênero musical; buscamos trabalhar com bandas que tenham uma mesma linha de ideias e acreditem no “faça-você-mesmo”.

Vocês também têm um blog no Medium em que falam de coisas além dos artistas do selo. Como, por exemplo, recomendações de filmes. Isso é meio raro para selos independentes. Como surgiu isso?

Gustavo: Foi uma das formas que encontramos para continuarmos ativos no meio da pandemia com a produção de eventos parada e as bandas encontrando dificuldade em compor, ensaiar e gravar novos materiais. Também é uma forma de divulgação de assuntos que os membros do selo consideram interessantes sem estarmos apenas nos autopromovendo.

Rudinei: Além disso, acreditamos que colocando os integrantes do selo para escrever, o público também começa a ter noção de quem promove a iniciativa e o que essa pessoa acredita. Também acreditamos que há uma carência de blogs que promovam conteúdos sobre produção cultural independente e entretenimento, parece que há muita gente falando da mesma coisa ultimamente. Então nos pareceu interessante começar a construir um canal próprio, mesmo que aos poucos. A ideia não é competir com ninguém, e sim, fortalecer o que acreditamos e curtimos até para nós mesmos. Ainda estamos estudando, mas talvez essa parte se amplie em 2022, principalmente, com foco mais local.

Como vocês enxergam o papel dos selos independentes hoje em dia?

Gustavo: Acho bem interessante o papel de curadoria que os selos apresentam, a questão de facilitar a procura por novos artistas que sejam de um mesmo selo. 

Rudinei: É claro que foco em cada selo pode ser diferente, mas a ideia de colaboração é uma das coisas que a gente mais curte nesse processo. Promover uma coletânea, um split, um minifest, um zine, distribuir tarefas e realizar coisas sem que seja pesado pra ninguém, é uma das coisas que pode ser interessante em um selo. O importante é que todo mundo contribua de alguma forma.

Falem um pouco da coletânea Alforge Records, No.1.

Gustavo: Assim como o blog, que até mesmo de início serviu para começar a divulgação da coletânea, foi outra forma que encontramos para conseguir lançar algo no meio da pandemia. As bandas que fizeram parte da coletânea, mesmo não sendo todas integrantes do selo, de alguma forma se relacionam com a gente, já tocaram juntas. Todas tinham algum material parado e não sabiam bem como lançar. Também já era uma ideia que vínhamos amadurecendo a algum tempo, buscar lançar splits ou materiais menores com mais de uma banda. 

Rudinei: Nos últimos tempos, estamos ainda estudando a possibilidade de promover outras edições dessa coletânea ou outras ideias que criem um vínculo parecido.

Quais os planos para esse ano que se inicia?

Gustavo: Principalmente, voltar a fazer e trazer shows para Caxias do Sul. Iriamos ficar muito felizes se conseguíssemos reunir algumas das bandas que fizeram parte da coletânea para um festival. Também já estamos planejando alguns lançamentos, além de estarmos discutindo novas ideias e formatos para o blog.

Se vocês pudessem dizer algo para quem está começando agora, seja em uma banda ou um selo, o que diriam?

Gustavo: Eu diria para não desistirem, apesar de sabermos das dificuldades de ser uma banda ou selo independente, precisamos de mais pessoas fazendo do que esperando que os outros façam. Os primeiros materiais da sua banda não precisam ser perfeitos, só grava, organiza uma maneira pra divulgar e lança da melhor forma que conseguir e com os recursos que tem, mesmo que não sejam os melhores possíveis. 

Rudinei: Vai aprendendo com a experiência do fazer e melhorando a cada lançamento. Além disso, busca a galera da sua cidade pra trocar ideias e vê se rola afinidade na visão e nas possibilidades de trabalhar junto e ir se ajudando.