Derrota foi formada em Americana, interior de SP, em 2012 e hoje é composta por Leonardo Cucatti (guitarra), Nathalia Motta (guitarra), Bruno Meneghel (guitarra), Eduardo Meneghel (baixo) e Claudio Cestare Jr. (bateria).
A banda é instrumental e eu me atrevo a dizer que o som é quase post-rock. Eu acho difícil descrever uma banda instrumental quando o som não é bem específico. No caso da Derrota a sonoridade é bem melódica e um tanto pesada.
Depois de dois EPs e três singles, em Abril de 2019 a banda lançou seu primeiro disco, “Parece Insuportável”.
A banda já participou de algumas coletâneas, incluindo o primeiro volume da “Discografia Caipirópolis”, composta por bandas do interior de São Paulo e lançada por nós do Bus Ride Notes em Julho de 2020, e, mais recentemente, da “Sangue Preto”, “projeto em parceria com bandas, artistas, fotógrafos e selos independentes com a proposta de combate ao racismo na sociedade em que vivemos”.
Abaixo você lê nossa entrevista com a banda:
Vocês podem falar um pouco sobre a banda pra quem não conhece?
Leonardo: Eu e a Natt montamos a banda em 2012, mas na época não era realmente uma banda ainda, era mais a nossa vontade de criar e compor. Diversos amigos tocaram com a gente nesse começo, por isso entre 2012 e 2015 a banda praticamente não existiu, não fizemos muitos shows e nem gravações. De 2015 pra cá é que a banda foi tomando forma com uma formação mais sólida.
Eu acho meio bobo perguntar por que uma banda toca certo gênero musical, mas instrumental é algo que tamos começando a ver mais agora, até um tempo atrás era difícil conhecer mais de uma banda, mesmo no underground. Eu queria perguntar como vocês fizeram essa escolha e como vocês vêem esse cenário específico de projetos instrumentais atualmente.
Leonardo: Eu sempre ouvi muita música instrumental, desde Jazz até bandas como Tortoise e The End of the Ocean, fora o Hurtmold, que era bem próximo da gente, vi um milhão de show deles. E sempre achei muito foda o lance de subir no palco e passar toda emoção e fúria sem dizer uma só palavra. Dessa forma, pra mim, foi muito natural pensar numa banda instrumental. Hoje em dia realmente tem muito mais bandas instrumentais, até mesmo de estilos bem diversificados, festivais somente com bandas instrumentais, o que é muito legal. Por exemplo, o festival “A Música Muda” que tem esse nome ambíguo muito interessante.
Eduardo: Antes de entrar no Derrota eu tinha assistido alguns shows e me chamou muita atenção como o som era expressivo. Ao mesmo tempo que cada guitarra está tocando um riff/tema diferente, elas se complementam e acho que isso deixa o som mais expressivo. Além disso, os efeitos que usamos também ajudam a passar a mensagem da música, mesmo sem dizer nada.
Natt: A gente nem pensou muito em ser instrumental acho, era uma ideia de brincadeira por que a gente falava que vocalista enchia muito o saco, daí ficou instrumental e acostumamos assim (risos). Ah, e inclusive, festivais de música instrumental, nos notem! Nunca tocamos em nenhum que eu me lembre.
Vocês têm alguma influência específica pra esse tipo de som ou foi o normal de toda banda: cada um chega com a sua bagagem e vamos ver o que acontece?
Leonardo: Eu falei basicamente as minhas influências na resposta anterior, mas com certeza a bagagem musical de cada um e as emoções que passamos no dia a dia são nossa maior influência.
Natt: Eu nem ouço música instrumental, no máximo um Hurtmold as vezes. Cada um carrega sua bagagem de desgostos na vida, isso é o que mais conta no Derrota, acredito.
Vocês podem falar sobre o processo de composição e gravação de “Parece Insuportável”, por que ele demorou pra sair, né?
Leonardo: Então, esse foi um período complicado (risos). Como falei antes, a banda não tinha uma formação fixa e estabelecida e nessa época foi mais complicado ainda porque a Natt ficou um ano mais ou menos fora da banda, então eu e o Jesse (ex-guitarrista) continuamos compondo, mas não tínhamos baterista e nem baixista. Quando a Natt voltou para a banda e o Eduardo entrou, as músicas tomaram forma e começamos a gravar as prés, mas como ainda não tínhamos baterista ficamos mais um bom tempo empacados com o disco. Quando o Marcel (ex-baterista) entrou na banda é que começamos as gravações pra valer, ele praticamente entrou na banda gravando o disco. Depois ainda demoramos um tempo com mixagem e escolha da capa, tudo isso demorou bastante mesmo.
Natt: É o “Chinese Democracy” do interior (risos). Foi demorado, mas é um dos discos mais lindos que já gravamos. O bom é que saiu bonito, imagina se demorasse e ainda saísse uma merda? Aí seria o fim…
Vocês podem falar um pouco sobre o clipe de Jus De Pomme?
Eduardo: O clipe reforçou a ideia de que uma música instrumental pode passar uma ideia bem clara. Quem vê o clipe consegue entender a história e a mensagem da música.
Natt: Esse clipe é meu favorito, ele foi gravado aqui em Americana mesmo, com nosso baixo orçamento, e muita gente amiga participando. Foi emocionante do começo ao fim a gravação desse clipe. Sou eternamente grata a cada um que se dispôs a ajudar a gente nessa ideia.
Leonardo: Foram dois dias intensos de gravação e que deixaram saudade! No primeiro dia gravamos em São Paulo com as skatistas, fizemos algumas cenas na pista do chuvisco, na rua e principalmente no minhocão. No dia seguinte gravamos com a banda e os manifestantes aqui em Americana, numa rua meio abandonada, bem o cenário caótico que pensamos mesmo. Tínhamos a ideia de colocar fogo ao redor da banda e deu tudo certo! Pensamos muito em como fazer isso de forma segura. Quase tivemos um pequeno acidente quando, sem querer, um dos assistentes da produção deixou respingar álcool na bateria, tivemos que parar tudo, limpar. Depois disso ainda ameaçou chover e começamos a desmontar o equipamento. Foi um momento meio tenso, porque já estávamos todes ali pra começar a gravação, mas não podia chover. No final não choveu, montamos tudo de novo, o que nos atrasou mais um pouco, mas de tudo certo e o resultado ficou incrível!
Vocês podem falar sobre a música que vocês gravaram pro Projeto Sangue Preto? Alguns integrantes da Derrota também produziram a coletânea, não foi?
Leonardo: Sim, eu estive à frente da produção da coletânea. Depois da onda de protestos contra o racismo por conta do assassinato do George Floyd nos EUA eu comecei a pensar o que nós, enquanto banda no Brasil, poderíamos fazer; e com essa ideia na cabeça eu fui conversando com outras pessoas de bandas como o Anderson do Desobeça, o Xandão do Crexpo, a Josie do Hayz e também o Clayton do selo A Saga e o Canti do selo Caustic Recordings, e a ideia foi tomando forma, criar essa coletânea contra o racismo e contra a violência e opressão policial. Fui conversando e convidando outras bandas e artistas do Brasil todo, no final somamos 25 bandas e 11 artistas que ilustraram o encarte. Todo o processo de produção e criação da coletânea foi discutido entre as bandas para que chegássemos num acordo desde a capa até as opções de como e quando lançar. Saiu em CD pela união dos selos Läjä Records, Caustic Recordings, A Saga, América do Sul, Inside A5 e de todas as bandas envolvidas. Quem se interessar pode comprar uma cópia, que acompanha um lindo encarte em formato de livrinho A5, diretamente com as bandas.
Americana é interior de SP, vocês podem falar um pouco sobre a cena daí? Ela tem mudado muito nos últimos anos como em São Paulo e outras cidades?
Natt: A cena daqui sempre foi muito intensa, tivemos vários festivais fodas, Americana era referência no role underground, hoje em dia um pouco menos. Passamos por uma fase na qual parecia que as pessoas não gostavam mais de sair de casa pra ver bandas tocarem, essa era minha percepção uns anos atrás. De repente voltou o interesse, aqui mesmo no HUP (estúdio no qual nossos guitarrista e baterista fazem parte) sempre aconteciam rolês incríveis, e estamos com saudades disso.
Leonardo: Realmente Americana já teve shows e festivais memoráveis na música independente. Sempre partindo do faça você mesmo, as bandas e amigos sempre se mobilizaram pra fazer a coisa acontecer.
Últimas considerações? Algum recado?
Leonardo: Agradecemos demais o espaço e a conversa! Há alguns meses vocês lançaram uma coletânea com uma música nova, só podemos agradecer mesmo, de coração, pelo apoio e pelo incentivo a diversas bandas independentes. A cena independente só acontece com nossa força unida! Acompanhem a gente nas redes sociais, Bandcamp… e outras bandas também!
“Parece Insuportável” está disponível no Bandcamp e nas redes de stream.
Ex colaboradore das antigas Six Seconds e Calliope Magazine e alguns blogs de música. Resolveu fazer o próprio site enquanto não tem dinheiro o suficiente pra fazer uma versão BR do Audiotree Live.