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Entrevistas

Madellena – Punk Riot Capixaba

Quando se fala em hardcore e punk capixaba, o que vem primeiro na sua mente? Espero que tenha sido Funny Feeling, Inside Reality e toda a leva de bandas incríveis que foram influenciadas por elas.

Podemos fazer vários recortes do que aconteceu e do que tem rolado no Espírito Santo, todo mundo conhece os selos e as bandas famosas dos caras, e os estilos que fizeram a fama de Vila Velha. Mas aqui também tem muita banda inspirada na cena riot grrrl e queer, como The Truckers e Whatever Happened to Baby Jane atualmente e Lady Laura num passado não tão distante. E é desse cenário que vem a Madellena, banda que estreou ano passado com uma sequência de shows incríveis.

Segue abaixo uma pequena entrevista respondida pela banda.

Madellena começou a tocar em 2019, mas ela de alguma forma foi pensada e os primeiros passos se deram bem antes, certo? Conta um pouco como foi esse início e como vocês tem percebido esses primeiros shows, a resposta das pessoas e a percepção de vocês da banda. Já é a Madellena que gostariam de ser?

Lívia: Na real a ideia da banda começou no finalzinho de 2017 ou início de 2018, não me recordo. Ela surgiu de um papo que Alexandre estava trocando comigo e acabou me perguntando se eu sabia de alguém que cantava, pois ele queria formar uma banda com vocal feminino mais voltado pro punk e alternativo, eu respondi que sim, eu mesma.

Demoramos um pouco pra achar alguém que topasse tocar bateria, depois ficamos sem batera novamente por um bom tempo. Então, Alexandre conversou com Vanessa e ela decidiu entrar.

Os shows foram todos bem especiais, sempre vi muita gente curtindo o som, em especial as meninas. A banda, formada e completa, ainda tá bem no início, e apesar de eu já estar super satisfeita e orgulhosa do som que a gente vem fazendo, acho que ainda vamos evoluir muito e tomar cada vez mais forma ao longo da nossa trajetória.

Antes do mundo começar a acabar, vocês postaram que a banda ia começar a ensaiar com uma baixista. Essa necessidade surgiu dos shows ou era uma vontade desde o começo? Acho que a gente sabe quem é a baixista hehe como foi o contato com ela?

Desde o início a ideia era ter alguém no baixo, de preferência alguém que também pudesse fazer segunda voz, mas a gente não quis deixar a falta de um baixista atrasar ainda mais o projeto, e seguimos sem por um tempo.

Vanessa, que inclusive já tocou com Ignez, trocou ideia com ela. Ela, para nossa felicidade, acabou topando assumir o baixo. Inclusive estamos super animadas pra ter um ensaio com os quatro integrantes presentes, o que até então não foi possível.

A pergunta é cliche, mas vamos lá: musicalmente, de onde vem a influência? Bandas e cenas e tal. E pelo pouco que conheço de vocês (pelo menos o Ale e a Livia), sei que vocês tem um pé no metal e música mais extrema. E aí como é construir as músicas da Madellena respirando e vivendo outros rolês de música? Rola de conciliar ou vocês conseguem separar bem as influências?

Nossas maiores influências estão no movimento riot grrl e punk em geral, com um carinho especial pelas bandas Bikini Kill, Sonic Youth, Fugazi, Babes in Toyland, Dominatrix, Pin Ups e Violet Soda.

A banda é formada por pessoas muito ecléticas, que curtem tanto som extremo como uma parada mais “água com açúcar” e acho que todas as nossas influências nos trouxeram onde a gente tá hoje, mesmo que algumas não sejam tão presentes na hora de compor uma música.

Por isso curtir e ter conhecimento de outros roles é importante, não só pra apoiar o movimento como um todo, mas também pra tirar a gente da mesmice, incorporando elementos novos nas nossas composições.

Na banda tem gente que toca em outras bandas, que organiza shows, que frequenta e faz parte de outros undergrounds além do punk. Então não tem pessoas melhores pra eu perguntar sobre o rolê aqui no ES do que vocês. Como vocês tem visto a movimentação aqui? De alguma forma vocês acham que a gente tem acompanhado o que tem rolado nas outras capitais? No sentido de como se organizar e abraçar algumas ideias. Como público, como banda e como “produtores” de shows, o que vocês acham que tem dado certo e o que a gente precisar mudar?

Apesar do machismo e das panelinhas que infelizmente fazem parte da maioria das cenas, eu vejo o underground da Grande Vitória de modo positivo. Nos últimos anos surgiram várias bandas novas e alguns novos lugares pra tocar.

O mais bacana de testemunhar é que a própria galera das bandas está organizando os seus shows. É comum ver que certos eventos são concebidos pelas próprias bandas, cada um leva uma coisa (bateria, amplificador, mesa de som) e o show acontece.

Surgiram alguns coletivos que fizeram eventos fantásticos, como o “Coletivo Comuna” e o “Matilha Punx”. Acredito que a cena local é composta por poucas pessoas devido à uma população pequena comparada com SP, por isso basicamente todos se conhecem. Veremos como tudo ficará após a pandemia.

E como estão os planos de gravar? Quer dizer, com a pandemia acho que as coisas pararam pra muitas bandas, mas vocês tinham alguma movimentação de gravar? E aproveitando a pergunta, como vocês veem essa era do streaming, que já vem de um tempo, mas acho que agora firmou no underground? Vocês acham legal esse jeito da gente lidar com a música que a gente produz? A gente que eu digo, punk, contracultura.

A banda já estava com projeto de gravação antes da pandemia, mas tivemos que adiar esse desejo.

O streaming é uma ferramenta interessante de interação com o público, pois aproxima o que está longe, nesse momento de quarentena tem sido a maneira de alguns músicos sobreviverem do próprio trabalho, o que por si só é extremamente relevante. Agora, dizer que é melhor que o contato com as pessoas no show, acho que ninguém vai concordar com isso (risos).

E também não é a única maneira de usar a tecnologia para produzir música, estamos rascunhando uma maneira de interagirmos através da tecnologia sem perder a essência das criações.

Esses últimos anos o hardcore punk cresceu em vários sentidos, mesmo muita gente dizendo que antigamente era melhor. Cresceu porque deixou de ser menos heteromacho, se criou uma movimentação muito forte queerfeminista, muitas vezes até à parte do que estava rolando. Vários festivais grandes feitos por elas e elus, várias bandas queer e foi bem um atropelo mesmo. Como vocês tem visto esse role todo? Enquanto banda, enquanto pessoas envolvidas no que existia antes e no que tem rolado agora.

Houve uma época em que tínhamos mais bandas com mulheres aqui na cena capixaba. Bandas como Kamomila e Inside Reality fizeram história. Recentemente Whatever Happened to Baby Jane foi muito importante pra reafirmar e fortalecer o papel das meninas e mulheres na cena. Na maioria dos nossos shows tocamos com outras bandas que têm membros femininos ou só mulheres, como The Truckers.

Creio que todo mundo já notou que nos últimos anos várias bandas com essa característica ganharam bastante destaque na cena. Grupos como Violet Soda, Bioma, Anti-Corpos, Miêta, Pata, Weedra, Time Bomb Girls, Eskröta, Nervosa, Ema Stoned e várias outras vêm fazendo um belo trabalho com músicas de qualidade e atitude.

Além disso, foi lindo ver Dominatrix e Pin Ups voltando a fazer shows no ano passado. Creio que a tendência daqui pra frente é que a cena de diversos lugares se torne cada vez mais feminina. Eu particularmente não aguento mais ouvir macho cantando (risos).

Madellena é Lívia nos vocais, Vanessa na bateria, Alexandre na guitarra e futuramente a Ignez no baixo.
Essa entrevista também saiu em formato físico no zine Herencia, lançado esse mês.