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Resenhas

Pin Ups – Long Time No See

Pin Ups é quase uma lenda. Aquela banda que a gente escuta e pensa “Como isso não estourou?”. Não existe uma resposta certa, mas na história do underground brasileiro, lá estão eles.

Desde o primeiro lançamento, “Time Will Burn” (1990), muita coisa veio e passou, aconteceram diversas mudanças na formação do grupo e eles finalmente entraram em hiato no início dos anos 2000.

Eu, pelo menos, não apostaria que o Pin Ups voltaria pra mais um disco. Recentemente eles vinham fazendo alguns shows, mas achei que ficaria só nisso, algo como o que rolou com o Ludovic. Porém, com uma belíssima surpresa, eles voltaram. Finalmente.

Homenageando todos os sons que influenciaram a banda e com a participação de diversos amigos, Pin Ups está de volta e com um disco feito para ser ouvido bem alto nos fones, sem perder nenhum detalhe.

São músicas curtas, mas que expandem muito o leque de variedades do som da banda. Mesmo sendo um disco de retorno, passa longe do gosto de coisa requentada. Aqui Pin Ups está tão quente quanto na época do “Lee Marvin” (1998).

Eu já quero abrir um parênteses pra deixar claro que sou muito suspeito pra falar dessa banda. Sou bem mais novo que a história deles, mas tenho uma paixão enorme pelo trabalho do grupo. Eu quis montar uma banda logo depois de ouvir o “Time Will Burn”. Sabe a sensação de quando a gente tem um estalo ou pancada na cabeça depois de ouvir um determinado disco? Aquela sensação de descobrir algo especial, tipo “Esse som existe? Aqui?!”. Pois é.

Dito isso, qualquer exagero ou afobação minha nessa resenha tem um bom motivo, mas vocês já sabem né: escutem os discos e tirem suas próprias conclusões. Escrevam suas conclusões, façam algo com elas, por que não?

“Long Time No See” foi lançado em junho de 2019, vinte anos depois do último álbum da banda. O disco saiu pela Midsummer Madness, a casa das guitar bands**, e foi produzido por Adriano Cintra (Ex CSS) e Zé Antônio Algodal. A mixagem e masterização ficou por conta de Ignácio Sodré. As músicas foram gravadas no Estúdio Aurora, em São Paulo. Quem assina a arte da capa é Laurindo Fernando. A obra é dedicada ao saudoso Kid Vinil, falecido em 2017.

Essa nova reencarnação do Pin Ups traz de volta Alê Briganti no baixo e vocais; Zé Antônio, único membro original da banda, na guitarra e baixo; Adriano Cintra na guitarra, baixo e farfisa; e Flávio Cavichioli na bateria. E é a bateria do Flávio que nos dá as boas vindas em “Long Time No See”.

Com um quê de The Stooges na bateria e teclado, “You Can Have Anything You Want” abre o disco. De cara, já chama a atenção os artifícios eletrônicos acompanhando o som. Pin Ups chegou ao anos 2010. “Tell me now, is this a dream?“, pergunta o refrão. Em dado momento, Zé Antônio entra rasgando com a guitarra para mostrar que não perdeu a mão em todos esses anos. Amanda Buttler (Der Baun e Sky Down) aparece aqui para os backing vocals.

“Portraits of Lust”, segunda faixa do álbum, traz um baixo dançante (que até lembra um tanto o Fugazi) e a participação de Eliane Testone nos vocais e guitarra. Mesmo esse sendo o álbum mais bem produzido da banda, eles não deixam de lado as distorções e microfonias, o que é ótimo.

“Little Magic” nos primeiros segundos nem parece uma música do Pin Ups, sinal da diversidade de influências que compõem o novo álbum. Mas os inconfundíveis vocais da Alê Briganti já aparecem cantando “It’s so unbelievable, I guess that’s really special“. Realmente isso é um momento especial, Alê. A faixa conta novamente com Eliane Testone na guitarra.

“Separate Ways” prossegue como a faixa mais punk do disco até o momento. Ela trata de separações e o prazer da incerteza. “There is no guarantee, and I am not afraid“, canta Alê.

“Spinning” é o primeiro single do disco e lembra bastante os sons do “Lee Marvin”, com direito a um solo de violão. Com um vocal bem parecido com os da Kim Deal (Pixies), Alê declara “You will feel the thrill. Of being young again“. Frase bem significativa para esse retorno da banda.

Quem diria que um dia veríamos o Pin Ups abrir uma música com tecladinhos anos 60 (fafisa, o nome) como na sexta faixa, “Ballad for Samuel and Tobias”? Mas aqui está e o resultado é muito bonito, lembrando muito os Beatles na fase “Magical Mistery Tour” e “Sgt. Peppers”. Adriano Cintra dá um show nela e o duo Antiprisma (Victor José e Elisa Oieno) fazem os backing vocals.

Mais participações especiais na animada “Mexican Tale”. Dessa vez, Jim Wilbur do Superchunk contribui nas guitarras e Amanda Buttler volta a participar dos vocais. A faixa lembra muito os últimos álbuns do Pin Ups e é uma das melhores do “Long Time No See”. “Let’s run away to Mexico. Let’s do it before they build the wall“, convida a letra, citando o fetiche norte-americano em construir um muro na fronteira.

“Damn Right” traz mais influências dos anos 60 ao disco. É muito bom ouvir como essas influências caem como uma luva ao Pin Ups, o som é simplesmente redondinho. “Long Time No See” pode até ter puxado o freio no peso da banda, mas isso não é algo negativo, muito pelo contrário. Pin Ups aqui aparece com um som amadurecido, confiante e mais refinado do que em qualquer outro momento. É como um passeio por todas as influências da banda ao longo dos anos, é simplesmente delicioso.

Quer outro exemplo disso? É só ir para a próxima faixa, “Gone Tomorrow”. Aqui ouvimos mais pitadas dos Beatles, banda que o Pin Ups já homenageava lá na época do “Gash” (1992). Mais uma bela participação do duo Antiprisma. “All those lonely days will be gone tomorrow“, celebra o refrão. De longe, a faixa mais bonita do álbum.

“Crazy”, décima faixa, nos lança em um sonho psicodélico que deixa o som pairando no ar. Cheia de efeitos, tem a maior cara de encerramento de álbum. Mas não é.

A faixa que dá nome ao disco é a mesma que fecha esse reencontro com Pin Ups. Como se tivesse saído direto do “Souvlaki” (Slowdive) ou “Loveless” (My Blood Valentine), a guitarra de Zé Antônio soa belíssima aqui. “After all those years you still got me here“, canta Alê finalizando o álbum. É um lindo reencontro.

“Long Time No See” está disponível no Bandcamp e nas redes de stream.

**As guitar bands que citei ali em cima, são bandas independentes brasileiras que apareceram na primeira metade dos anos 1990 com letras em inglês e um som inspirado no alternativo que começava a ganhar a atenção do mainstream no exterior. Para quem quiser saber mais, recomendo assistir o documentário “Time Will Burn” (2018), que está disponível online, e ouvir o catálogo de bandas da Midsummer Madness.