O EP da banda XAVOSA, lançado em 2019, conta com 7 faixas que venho devorando nas últimas semanas.
Vamos lá, primeiro de tudo vamos conhecer a banda:
“Xavosa surgiu em Brasília no começo de 2017 e atualmente é composta por Camila Galetti (voz), Rita Lima (bateria), Lorena Lima (guitarra) e Lucas Fuschino (baixo). Com influências como Hole, Distillers e Tsunami Bomb, a banda transita entre o punk e o hardcore melódico, carregado de mensagens politizadas calcadas na militância pessoal e profissional das integrantes. Com poucos, mas memoráveis shows ao longo de 2017, Xavosa retornou aos palcos no último mês de março no evento Poções de Bruxaria, ao lado de Anti-Corpos (ícone do hardcore feminista nacional), Hayz, Bloody Mary Una Chica Band (ambas de São Paulo), e a conterrânea Penúria Zero.”
Agora que estamos familiarizados, quero exaltar o EP “Luta (s.f)” com o maior prazer do mundo. Com letras que exploram as dificuldades que as mulheres não padronizadas são submetidas. Da mãe até ativista não-binárie (e também quando são a mesma pessoa).
Som acelerado e cheio de peso que transborda repudio à sociedade conservadora
É o tipo de banda que conversa com todas as minas, que ao crescerem têm a escolha de se manter na estagnação mental gerada por anos de condicionamento opressor ou ir para luta (substantivo feminino).
Xavosa mistura punk e hardcore melódico de forma natural com músicas que podemos dançar e cantar junto, até trabalhos mais pesados de pura resistência. “Luta, substantivo feminino” é a faixa titulo do EP e diz muito sobre a essência da banda. Jovens adultos, idealistas, feministas, não conformistas que pedem por liberdade e exigem respeito. E que têm a audácia de sobreviver e triunfar diante de toda repressão constitucionalizada sem deixar comprometer sua essência.
Rivotril
É o tipo de som que da para se jogar com o ritmo da guitarra enquanto algum amigo berra a letra inteira do seu lado. Esse som conta com a força da bateria sendo precisa e marcante. Memorável também o solo de baixo energizante que predomina durante a música.
A letra trata de doenças mentais que causam aqueles dias de crise em que nós simplesmente não conseguimos funcionar. Afinal, quem nunca se salvou de uma crise ansiosa ou depressiva com um bom e velho “Rivotril”, que atire a primeira pedra. Nos faz lembrar que a luta interna que enfrentamos diariamente é tão desgastante quanto as nossas batalhas do “mundo real”.
Corpos
Pensa numa mina com raiva, isso resume o vocal dessa faixa fodástika. A banda tem algo a dizer e nós vamos ouvir. É a hora da revolta! Porque afinal de contas pra que servem as bolas senão para serem chutadas?
“Corpos” é uma canção de afronta contra os padrões. Porque nossos corpos não nos definem e nem nos definirão, a frase “corpos em protesto” não me tira da cabeça o triste fato de que o simples ato de não exibir determinadas características estéticas disseminadas como “atraentes” e existir feliz da forma como se é tornou-se uma espécie de revolução em si.
Cidade
“Quem dera essa cidade fosse minha…”. Quem dera pudesse ser mulher e voltar para casa a noite sozinha sem temer. Continuar vivendo nesse ambiente é resistir.
Nessa faixa a harmonia da guitarra me faz sorrir toda vez. Gostei do som e, para o meu gosto ele, tem uma batida boa para reflexão. É o tipo de música que eu quero ouvir no busão voltando para casa depois de um dia cansativo e talvez faça eu me sentir melhor. Não é tão agressivo porque é quase como um lamento. Do começo ao fim tem uma batida forte e cheia de emoção.
Pesa ao ultrapassar espaços que não devia
Quebrando como se fosse britadeira
Incomoda com sua beleza
Mas assusta quando é vista muito livre
Marta
Talvez seja o som “mais grunge” da banda amei. Acho “Marta” um som tão alegre que eu me imagino cantando junto na chuva, a melodia de todos os instrumentos juntos nesse som é mágico muito bem feito e de uma vibe positiva gigantesca. Estou plena, estou Marta.
Destruindo conceitos, espalhando uma ideologia de resistência, gritando a plenos pulmões por liberdade. Esse caminho é desgastante, longo e ainda não está perto de acabar, mas Marta não se importa e continua firme, forte, feliz e muito debochada cantando para todos os chatos opressores e sem noção (fiscal de cu alheio). Pô, eu só quero ser livre!
Básica
Meu que som é esse? A faixa já começa com uma pegada pesada perfeita para bater um cabelo. Revolta pura, “Básica” é uma musica agressiva e tem que ser. Fala sobre verdades que precisam ser gritadas. Sobre essa sociedade podre que transforma mulheres livres em escravas das circunstâncias. São obrigadas a sobreviver de forma quase indigna e mesmo assim se mantém em pé.
Suburbana! Subemprego!
Ela tem medo! Cansada!
Mas sempre sorrindo, sempre cantando, de unhas pintadas
Suburbana! Subemprego!
Ela tem medo! Cansada!
Correnteza
Sempre que escuto essa canção me pego imaginando como seria curtir esse som ao vivo… Imagino uma roda bem animada. O vocal se destaca pela sua afinação, Camila solta sua voz trazendo um vocal limpo e bem enunciado que se encaixa perfeitamente com a com a batida melódica trazida pelos outros instrumentos em conjunto. Ouço ela e quero dançar. É uma musica motivacional e elétrica. Ótima para sair e derrubar o sistema. A mensagem principal é: não desista.
Luta (s.f.)
Feminismo puro. A vida da mulher é uma luta contínua e o título diz tudo. Lugar de mulher é em toda parte, sempre lutando. Som para quebrar tudo. Acelerada pungente que vai direto ao assunto sem frescuras, sem pedir desculpas. Na musica baixo, batera, guitarra e vocal vem com uma dose extra de peso e distorção tornando a faixa que fecha o EP a mais marcante. Puro punk rock (pode ser HC não me julguem) arrebatador.
Jornaleira, grunge, só quer fazer um trabalho decente. É amante música ao vivo e livre.